Comecemos por entender o conceito de espiritualidade e o que é ser espiritual. Ambos os conceitos derivam do latim spiritus que significa sopro, ar, alma. Entendemos então que ser espiritual é ter consciência da nossa existência enquanto alma. Entende-se por caminho espiritual o caminho que nos leva à consciência plena da nossa existência e nos leva a atingir um estado de conhecimento profundo da nossa essência e do que nos rodeia.
A Espiritualidade tem por base a existência do espírito, e apesar de ser mencionada em diferentes religiões e diferentes doutrinas, não se limita a nenhuma delas.
E como isto se aplica em nós, no nosso dia-a-dia, e nas nossas ações? O que faz de alguém um ser espiritual?
Um padre é espiritual? Ou um monge? Ou um yogi? Um sem-abrigo ou um político?!
Independentemente daquilo que somos neste mundo exterior, o que faz de nós um ser espiritual é o que trazemos do interior para o nosso exterior.
Subentende-se que na área holística, principalmente em centros de terapias, existam seres espirituais e que este seja o caminho espiritual.... Mas o que faz de nós um ser espiritual não é o nível de Reiki que temos, o facto de saber trabalhar com um pêndulo ou o nome de 100 cristais, não é o numero de formações em terapias alternativas que temos ou o tempo que meditamos, se praticamos ou não yoga, mas sim algo muito mais profundo...
A semana passada estreou o filme português "Variações" que relata um pouco da história de António Ribeiro (Variações), um músico português que trouxe a mudança numa época de mudança em Portugal. E o que tem António Variações a ver com ser espiritual? A resposta é MUITO!
O universo é uma balança, em constante equilíbrio, mais peso de um lado, mais peso do outro, para que tudo se mantenha em harmonia. Desta forma, não há acasos, nem coincidências. O acaso é uma explicação para algo que a nossa razão não compreende. Por isso, tudo o que acontece na nossa vida e no mundo faz parte de um caminho, é uma pequena quantidade de branco ou preto para criar uma paleta de cores uniforme. Da nossa perspectiva poderá parecer mais certo ou mais errado, porque não vemos todo o puzzle, mas um dia teremos oportunidade de ver como a vida e o universo são perfeitos!
E o António Variações?! O António Variações não veio ao mundo por acaso, não era homossexual por acaso.... Observando na perspectiva do puzzle percebemos alguns factos engraçados. Não podemos analisar com detalhe a vida deste artista mas com as informações que temos torna-se interessante a sua vida, a sua presença e a sua obra. O inicio do seu sucesso deu-se pouco depois do 25 de Abril, altura em que se tornou necessário expandir a "consciência portuguesa". Diz-se por aí que António estava à frente do seu tempo, diríamos até à frente do nosso. António foi um ser, humano, que deixou uma marca, num povo português conservador e abriu os olhos à mudança e à aceitação... O facto de ser homossexual, diferente e aparentemente excêntrico leva-nos à necessidade de aceitar as diferenças no outro. Não fumava, não bebia, facto retratado no filme e que revela amor próprio e estima. E toda a sua obra relata mudanças que são necessárias para o equilíbrio e que aos poucos, individualmente vão surgindo na nossa sociedade.
Destacamos alguns temas:
"Não me consumas" que refere o facto de sermos extremamente consumistas, vivemos de aparências, referindo na letra:
Creme de noite, creme de dia
Um que endurece,
outro que amacia
Tratas muito da fachada
Por dentro não tratas nada
"P'ra amanhã" que reforça a importância de viver o hoje, o agora. Ou "Muda de Vida" que nos lembra que temos a capacidade de mudar, de ser diferente, de ser feliz.
O tema "Anjo da guarda" transmite-nos a mensagem de que não estamos sozinhos, que há algo que nos protege apenas com Luz, sem conflito e sem guerra.
Estes são apenas alguns dos temas e uma das possíveis interpretações pois, tal como todas as obras, têm um significado subjectivo.
A pergunta mantém-se...e o que tem António Variações a ver com ser espiritual?
Destacamos na história da humanidade seres humanos que trouxeram mudança e que marcaram o mundo, religiosos, políticos, cientistas, artistas... Nomes como Jesus, Sidarta Guatama, Galileu Galilei, Nelson Mandela, entre muitos muitos outros que trouxeram luz ao mundo! Mas, embora pela negativa existiram outros seres humanos na nossa história que mudaram a nossa forma de ver o mundo e nos ensinam lições para toda a vida, como Adolf Hitler que nos ensinou de uma forma cruel a amar a diferença. E embora não nos trouxesse Luz, trouxe-nos um pouco de preto, que nos fez adicionar mais branco na busca pela harmonia.
Mencionámos António Variações como um exemplo de um simples ser humano com tanto de branco como de preto e vice versa, um pequeno ser de uma pequena aldeia, que tinha um sonho e que nos trouxe mensagens, trouxeram e continuam a trazer mudança.
E de tempos em tempos, há algum ser que marca a mudança. E faz com que se perceba um pouco mais do puzzle que é o universo. Mas se observarmos bem de perto, em todas as esquinas, de todas as ruas, de todas as cidades, de todos os países, de todo o mundo, de todo o universo, existem seres humanos especiais! Dentro de cada um de nós habita um ser especial e ser espiritual é trazer aos poucos esse ser para fora!
Como?!
Ser espiritual é muito mais profundo do que aquilo que meras palavras poderão descrever. Ser espiritual não se pode descrever, pode apenas sentir-se e observar-se! Podemos dizer que ser espiritual não está no que temos, claramente, nem no que mostramos ser, mas sim naquilo que somos realmente. Ser espiritual reflecte-se nas nossas atitudes, no amor próprio, na aceitação, respeito e amor ao outro e ao mundo que nos rodeia, reflecte-se na vontade de continuar um caminho árduo sem revolta. Pode alguém nunca ter ouvido falar em chakras, em Reiki, Yoga, Deus ou Jesus mas com o seu coração, a sua bondade, humildade, compaixão e gratidão trazer luz ao mundo e ser um ser não só humano, mas também espiritual.
Então para que servem os conhecimentos holísticos, o Reiki, a meditação, o Yoga?
Assemelham-se a uma religião. A religião mostra-nos um caminho, que a maior parte dos seguidores acaba por não seguir. Dá-nos uma base, uma moral, princípios... Os conhecimentos holísticos, o Reiki, a meditação, o Yoga são ferramentas que nos podem ajudar a trazer o nosso ser especial para fora, mas por si só não fazem de nós um ser espiritual. Não quando o fazemos pelo ego... É necessário entregar-se de alma e coração. Meditar numa busca das próprias limitações e não na busca de mostrar ser alguém ou ter conhecimentos. O verdadeiro conhecimento é o autoconheciomento e a verdadeira verdade é a verdade interior. E isso, não podemos encontrar nem mostrar no mundo exterior, podemos sentir interiormente e o resultado para o mundo será apenas amor e harmonia.
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